Constelações Familiares na Vara de Família viabilizam acordos em 91% dos processos

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Palestra Vivencial “separação de casais, filhos e o vínculo que nunca se desfaz”

Neste post, quero relatar alguns resultados observados com a aplicação das constelações familiares na Vara de Família da Comarca de Castro Alves/BA, no período de outubro de 2012 a junho de 2013.

Realizamos seis eventos (palestras vivenciais) com o tema “Separação de casais, filhos e o vínculo que nunca se desfaz”, com a participação de pessoas envolvidas em ações judiciais na área de família.

Esses eventos têm início com uma palestra, proferida por mim, sobre os vínculos sistêmicos familiares, as causas das crises nos relacionamentos e a melhor forma de lidar com isso, principalmente de modo a preservar o desenvolvimento sadio dos filhos. Em seguida é feita uma meditação, pela qual as pessoas entram em contato com o verdadeiro sentimento de amor e perda decorrente da crise familiar. Depois, podem vivenciar o método das constelações familiares – “constelando” sua própria questão familiar, participando da constelação de outra pessoa como representante de alguém da família ou apenas como observadores.

Na constelação familiar, uma pessoa se propõe a “olhar” para o seu próprio sistema familiar. Então são escolhidos, entre os presentes, representantes para essa pessoa e para os membros de sua família. Com o decorrer do trabalho, esses representantes começam a expressar sentimentos que traduzem as dinâmicas ocultas nos relacionamentos nessa família, chegando muitas vezes às origens das crises e dificuldades enfrentadas, que podem estar relacionadas a fatos ocorridos no passado familiar de cada um (inclusive de gerações anteriores). Podem, também, observar quais os movimentos e posturas que conduzem a uma solução.

MUTIRÃO DE CONCILIAÇÃO: Algumas semanas depois das palestras, realizamos um mutirão de conciliação, no qual boa parte das audiências envolveu uma ou mais partes que participaram da palestra vivencial de constelações familiares.

Durante essas audiências, os conciliadores notaram maior facilidade de conciliar nos processos em que uma ou ambas as partes vivenciaram o evento de constelações familiares.

Além disso, aplicamos questionários a fim de avaliar os efeitos do evento, quantitativa e qualitativamente. Os resultados vêm mostrando o quão positivos estão sendo os efeitos desse trabalho sobre cada uma das partes envolvidas e suas famílias, bem como no tocante às relações humanas com as quais lidamos no cotidiano forense.

RESULTADOS: Das 90 audiências dos processos nos quais pelo menos uma das partes participou da vivência de constelações, o índice de conciliações foi de 91%; nos demais, foi de 73%. Nos processos em que ambas as partes participaram da vivência de constelações, o índice de acordos foi de 100%.

Além disso, os conciliadores relataram uma extraordinária facilidade para obter conciliações entre pessoas que participaram do evento de constelações, que já chegavam dispostas a realizar acordo.

Através de questionários respondidos após a audiência de conciliação por 80 pessoas que participaram das vivências de constelações ao longo do 1º semestre de 2013, obtivemos as seguintes respostas:

  • 59% das pessoas disseram ter percebido, desde a palestra, mudança de comportamento do pai/mãe de seu filho que melhorou o relacionamento entre as partes. Para 28,9%, a mudança foi considerável ou muita.

  • 59% afirmaram que a palestra ajudou ou facilitou na obtenção do acordo para conciliação durante a audiência. Para 27%, ajudou consideravelmente. Para 20,9%, ajudou muito.

  • 77% disseram que a palestra ajudou a melhorar as conversas entre os pais quanto à guarda, visitas, dinheiro e outras decisões em relação ao filho das partes. Para 41%, a ajuda foi considerável; para outros 15,5%, ajudou muito.

  • 71% disseram ter havido melhora no relacionamento com o pai/mãe de seu(s) filho(s), após a palestra. Melhorou consideravelmente para 26,8% e muito para 12,2%.

  • 94,5% relataram melhora no seu relacionamento com o filho. Melhorou muito para 48,8%, e consideravelmente para outras 30,4%. Somente 4 pessoas (4,8%) não notaram tal melhora.

  • 76,8% notaram melhora no relacionamento do pai/mãe de seu(ua) filho(a) com ele(a). Essa melhora foi considerável em 41,5% dos casos e muita para 9,8% dos casos.

  • Além disso, 55% das pessoas afirmaram que desde a vivência de constelações familiares se sentiu mais calmo para tratar do assunto; 45% disseram que diminuíram as mágoas; 33% disse que ficou mais fácil o diálogo com a outra pessoa; 36% disse que passou a respeitar mais a outra pessoa e compreender suas dificuldades; e 24% disse que a outra pessoa envolvida passou a lhe respeitar mais.

EFEITOS REFLEXOS: além de aumentar o índice de acordos e facilitar o efetivo entendimento entre as partes, tais práticas têm gerado uma mudança na cultura da comarca, notadamente na visão dos advogados e dos servidores da Justiça em relação aos conflitos/ações.

Os advogados também têm se mostrado tocados pelas constelações, assimilando a visão sistêmica, assumindo uma posição mais conciliadora e colocando-se como auxiliares da Justiça nas ações.

O movimento pela conciliação na comarca em 2013, que incluiu as palestras e os mutirões de audiências de conciliação, despertou o empenho dos servidores, advogados e de diversas outras pessoas da comunidade, que de forma voluntária auxiliaram nos trabalhos forenses, animados pelo clima positivo resultante dos trabalhos realizados.

 

Veja também: 

Vivência de constelações familiares no Fórum de Castro Alves/BA

Aplicação de terapia de constelações familiares na Justiça (pelo Juiz Sami Storch)

Constelações Familiares no Fórum de Castro Alves

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Sobre Sami Storch

Juiz de Direito no Estado da Bahia, atualmente na Comarca de Itabuna. Graduado na Faculdade de Direito da USP. Mestrado em Administração Pública e Governo (Fundação Getúlio Vargas - SP). Pioneiro mundial no uso da Constelação Familiar no Judiciário. Autor da expressão e do blog “Direito Sistêmico”. Docente da Escola Hellinger (Alemanha-Brasil) e coordenador da Pós-Graduação em Direito Sistêmico pela Hellingerschule/Faculdade Innovare. Formador credenciado da ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados. Pesquisador associado da UFMT - Univ. Federal do Mato Grosso. Autor do livro “A Origem do Direito Sistêmico”. Meu foco é a aplicação prática, no exercício das atividades judiciais e jurídicas, dos conhecimentos e técnicas das constelações familiares. O objetivo é utilizar o Direito a força do cargo de juiz para auxiliar na busca de soluções que não apenas terminem o processo judicial, mas que realmente resolvam os conflitos, trazendo paz ao sistema. Contato: direitosistemico@gmail.com
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15 respostas para Constelações Familiares na Vara de Família viabilizam acordos em 91% dos processos

  1. Maria de Lourdes Vasconcellos disse:

    Seu trabalho é magnífico.

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  2. Vera Madalena Fontes Lourenço disse:

    Sou advogada aqui em SP, e ao ouvi-lo na rádio, procurei seu blog.
    Seu trabalho é maravilhoso.
    Parabéns

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    • Sami Storch disse:

      Olá Vera, muito obrigado. Tem muita gente fazendo um bom trabalho na Justiça, o que me dá a esperança de que podemos encontrar um bom caminho para lidar com os conflitos na sociedade.

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  3. Vânia Rosa disse:

    Olá! Gostaria de parabenizar pela visão inovadora na antiga arte de julgar conflitos. Fazemos em Cajamar-SP um trabalho parecido nas questões familiares e também estamos obtendo grandes resultados através da Câmara de Conciliação e Cidadania. Acredito que podemos trocar experiências! Forte abraço! Vânia Rosa.

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    • Sami Storch disse:

      Olá Vânia, que bom saber que vocês também estão nesse trabalho de pacificação dos conflitos familiares por meio da conciliação. As constelações familiares são uma técnica maravilhosa para isso, mas há outras que vêm sendo utilizadas com sucesso. Vamos em frente! Um abraço.

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  4. Livia disse:

    Em São Paulo existe este trabalho, como buscar esta informação

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    • Sami Storch disse:

      Oi Lívia,

      Em São Paulo há diversos bons terapeutas que trabalham com as constelações familiares em consultório ou em workshops. E sei também que tem gente, funcionários da Justiça, com formação em constelações e utilizando a visão sistêmica para trabalhar a solução de conflitos familiares. Mas ainda não tenho notícias da aplicação do método das constelações, propriamente ditas, na Justiça em SP. Não deve tardar pra isso acontecer… Um abraço!

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  5. yishai gaster disse:

    Hello Sami, Thank you very much for sharing this very important work that you are doing, I have been working with Family Constellations for many years now (20) and I feel (and hope) your unique contribution with this work will create a big movement in the resolution of Families in Crisis.

    I feel lucky that this paper has court my eyes and will share it on-wards!

    Yishai Gaster

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  10. rosana Feminino bracco disse:

    Sou aposentada pelo TJ-SP, trabalho junto ao Instituto Nara Eing e seria um prazer poder levar esse trabalho às Varas de família e ou setores que necessitem esse tipo de auxilio. Quem sabe chega aqui! abs e parabéns pelo Trabalho.

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